terça-feira, 7 de setembro de 2010

Entrevista com Graça Jacques

Conforme prometemos, iniciamos hoje um conjunto de depoimentos e entrevistas com pessoas que participaram do processo eleitoral. Buscamos apresentar um pouco do que foi essa experiência, como ela foi vivida em diferentes níveis e, mais importante, que lições ficaram.

Essa postagem marca, ainda, o início de uma nova fase no blog. Deixamos de ser um instrumento de comunicação de uma chapa de oposição e passamos a ser um veículo de comunicação de idéias e debates em torno dos mais variados temas na Psicologia. Nosso intuito é, sem dúvida, o de FORTALECER A Psicologia enquanto ciência e PROFISSÂO.

É com grande honra e satisfação que iniciamos essa nova fase com uma entrevista com Maria da Graça Correa Jacques que encabeçou a chapa Fortalecer a Profissão nas eleições nacionais para o CFP.

Ética na Pluralidade - Fale-nos um pouco sobre você:

Graça Jacques: Quando se apresenta alguém, encabeçando uma chapa de oposição ao CFP, portanto, contrária ao grupo organizado que há muitos anos é responsável pela gestão deste órgão e de muitos Conselhos Regionais, a pergunta que se coloca é: quem é Maria da Graça Jacques? Uma psicóloga, digamos “antiga”, cujo CRP 07 tem o número 23. Hoje, sou professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), embora ainda continue como docente em cursos de especialização da UFRGS e de outras universidades. Durante 20 anos fui professora na Pontifícia Universidade Católica do RGS, o que permitiu uma experiência tanto na área pública como privada. Minha especialidade é Saúde do Trabalhador, e me considero, também, uma militante neste campo interdisciplinar.

EP: Como foi participar das eleições deste ano?

GJ: A experiência de militância em um campo tão difícil como é o campo da Saúde do Trabalhador me fortaleceu para me engajar neste campo de lutas que o Sistema Conselhos de Psicologia hoje se apresenta, lamentavelmente. De um processo eleitoral sempre restam tristezas e alegrias. Espero que as alegrias perdurem.

EP:Como surgiu a idéia de montar uma chapa de oposição?

GJ: Há muito tempo um grupo auto denominado “Cuidar da Profissão” se instituiu como o grupo que deve conduzir os rumos da Psicologia no Brasil. É um grupo organizado que propôs uma política que há alguns anos vem ocupando diversas entidades, em especial no Sistema Conselhos, e implementando um determinado modo de conceber a construção do saber e do fazer no campo da Psicologia. Quando propomos outra proposta para o Conselho Federal de Psicologia tínhamos consciência de que seria muito difícil, mas achamos que valeria a pena. O movimento começou timidamente e foi se consolidando com apoios diversos. O que nos estimulou durante todo o tempo foi a construção de outra proposta que rompesse com o modo de condução do Conselho Federal de Psicologia que, na nossa avaliação, embora se auto intitule “democrático”, o grupo no poder manipula as instâncias decisórias e não consulta a categoria a contento. Para nós, o exemplo mais recente são as Resoluções 08, 09 e 10/2010 com as repercussões que só desmerecem nossa categoria profissional.

EP: Ficamos com a impressão de que houve uma grande repercussão nacional para as propostas defendidas por vcs...


GJ: Houve sim grande repercussão. Há diversas leituras para os números dos resultados finais. Cada leitura vai privilegiar um recorte e uma interpretação. Eu tomo a liberdade de concluir que perder, no Brasil, por 4% dos votos contra um grupo organizado e articulado há muitos anos pode ser entendido como uma vitória da nossa chapa. Os resultados foram muito diferenciados dependendo da região geográfica e do número de psicólogos votantes. Nossa proposta foi pela construção de uma Psicologia por todos os psicólogos, e talvez, devamos refletir sobre o número significativo de abstenções


EP: Podemos dizer que essa eleição marca o nascimento de um movimento político organizado nacionalmente intitulado FORTALECER A PROFISSÃO?

GJ: Eu, particularmente, sou contrária a constituição de grupos inspirados em grupos políticos partidários e com funcionamento similar, inclusive financeiro (recolhimento de mensalidades e de percentuais de jetons, por exemplo), para conduzir entidades de classes profissionais. Por isso, não gostaria que o nosso coletivo assumisse este formato que critico. O que penso é que podemos constituir um coletivo e propor uma crítica construtiva às próximas gestões do Sistema Conselhos de Psicologia.

EP: Quais as perspectivas daqui para frente?

GJ: O momento agora é de reflexão, tanto para nós que perdemos as eleições, como para o grupo vencedor que vai continuar no CFP. É também um momento de reflexão para toda a categoria dos psicólogos. Espero que a maioria de não votantes também encontre um espaço para compreender que a Psicologia como ciência e profissão não é um exercício de um sujeito isolado e descompromissado com o contexto onde está inserido, mas resultado de um conjunto. Omissão não deixa de ser uma ação, e, deve ser objeto de reflexão para o Sistema Conselhos.

EP: Algo mais que vc queira dizer para nossos leitores?


GJ: A principal mensagem é de esperança. Esperança e trabalho para que se possa dar voz à pluralidade e diversidade da Psicologia, sem pensamentos hegemônicos, sem desqualificações dos oponentes e, principalmente, que a transparência e ética sejam os nortes das ações daqueles que vão ocupar os Conselhos Regionais e o Conselho Federal de Psicologia nos próximos três anos.

Um comentário:

  1. Parabéns, pelo início desta nova fase deste meio de comuninicação com a nossa categoria profissional.

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