domingo, 30 de maio de 2010

Escrever cartas é uma parte fundamental da aprendizagem

Do Diário de Notícias em Portugal  nos chega uma reflexão bastante interessante sobre o processo de aprendizagem da escrita.

Esforço de escrever uma carta, "de aprender fazendo", é insubstituível, lembram os psicólogos. Que ainda assim defendem que não podemos diabolizar os computadores.


Tomás tem sete anos e nunca escreveu uma carta. "Porquê?" e "Para quem?" são as respostas quando lhe perguntamos as razões. Não é caso único. Segundo um estudo no Reino Unido, uma em cada cinco crianças nunca recebeu uma carta e mais de um quarto não tinham escrito uma carta no último ano. Cerca de 10% nunca tinham sequer escrito uma. Com destaque para os rapazes.

Pelo contrário, na semana anterior, quase metade dos 1200 entrevistados - com idades entre os sete e os 14 anos - tinham enviado ou recebido mensagens de e-mail ou em redes sociais na Internet. Para o psicólogo educacional José Morgado, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), os dados representam também a realidade portuguesa. E os números dos correios confirmam essa percepção, lembra. "Todos usamos cada vez menos o suporte papel, incluindo as crianças. Mas numa fase de aprendizagem isso não é desejável", explica.

"A cabeça e a mão são as bases, e o esforço de escrever uma carta, de aprender fazendo, é insubstituível", lembra o psicólogo, acrescentando que a maior parte dos especialistas insiste na importância da escrita em papel.

"Na aprendizagem, o computador é apenas uma ferramenta. Não é desejável valorizar o teclado em detrimento do papel e há que ter muita prudência", conclui. Não tem a ver com o desenvolvimento psicomotor, porque há uma "série de gestos que as crianças fazem todos os dias, mas sim com a própria aprendizagem da escrita", diz.

Por outro lado, não podemos diabolizar o computador, alerta, sobretudo quando tantas crianças já têm o seu portátil pessoal, graças a programas como o e-escolas e o e-escolinhas. "Nem se pode tentar convencer as crianças das enormes vantagens de escrever cartas em relação a usar a Internet, porque isso seria tapar o sol com a peneira. Uma mensagem escrita no telemóvel ou um e-mail chega imeditamente e podemos incluir imagens e as crianças sabem isso", lembra. Logo, é fundamental não pôr as duas coisas em concorrência.

Mas é uma alternativa que deve ser incentivada. Aliás, esse é um ponto que é abordado na formação dos professores do primeiro ciclo, explica Fernando Ilídio Ferreira, docente da Universidade do Minho. "Essa é uma das actividades propostas, escrever e colocar uma carta no correio", explica. Porque essa forma de comunicação está a ser abandonada a favor de outras mais instantâneas, como o e-mail, reconhece.

No entanto, o sociólogo da educação considera que ainda é cedo para perceber se os efeitos desta mudança são positivos ou negativos. "Quando nos sentamos para escrever, sem a possibilidade de voltar atrás, há um esforço de estruturação do pensamento num texto", reconhece. Por outro lado, talvez a comunicação rápida permitida pelo telemóvel ou pelo e-mail seja "mais espontânea e mais autêntica", conclui

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